O meu entendimento sobre SERTÃO vem do conhecimento empírico adquirido na minha infância quando lá eu vivi.
Mesmo sabendo que todas as regiões do Brasil têm um pedaço de sertão eu entendo que não basta nascer em um desses lugares, mas é necessário ter alma sertaneja.
O verdadeiro sertanejo não nega sua origem por mais que sua vida mude, adquira bens materiais e desenvolva o seu intelecto na cidade grande, ele sempre terá um pé na sua cidade de origem, no seu lugar de nascimento. Pode até mudar de país, mas sua identidade de sertanejo preserva como se fosse uma joia preciosa.
O meu sertão tem reisado, festa de santo e cantoria, meu sertão tem São João, São Pedro e Santo Antônio, meu sertão tem maneiro pau, caretas e bumba-meu-boi, meu sertão tem alegria e mesmo nos momentos difíceis o sertanejo não perde sua esperança de trabalhar, ele não se cansa. O sertanejo tem alma vitoriosa.
Fico triste quando percebo que a atual geração sabe pouco sobre o SERTÃO, esse que foi fonte de inspiração de vários escritores famosos como: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha e José Lins do Rego; entre tantos outros que basearam suas obras literárias nesse tema tão rico como nosso sertão.
Euclides da Cunha denomina o sertanejo como, acima de tudo, um indivíduo forte; Ariano Suassuna retrata a vida, a cultura e a alegria do sertanejo com seus contos e histórias pitorescas e expressa de forma explícita a importância do bom humor.
O Brasil não seria tão alegre se não fosse a nossa alma sertaneja.
Tenho orgulho de ter nascido no sertão, vivido a minha infância brincando com os poucos recursos que tinha, o que não tirou o brilho da minha melhor fase. O fato de esperar pela chuva que ainda escassa vinha para encher o riacho que passava perto da minha casa não me fez menos feliz. Os banhos de açude tinham um significado especial, as brincadeiras de pega-pega eram uma oportunidade de gostosas risadas.
As fogueiras de São João, as debulhas de feijão, as histórias de Trancoso contadas por João Bertoldo eram momentos de aprendizados que mesmo depois de anos ainda estão arquivados na minha memória inconsciente. Os meus amigos de infância que ainda são lembrados: Clemilton, Luiz, Luiza, Luzinete, Valdetário, os filhos do padrinho Zeca que guardo no coração. É um pouco de tudo que tenho pra relatar.
Lembro da minha roça de algodão que meu pai ajudou a plantar, com a venda do produto deveria comprar um burro, ou um cavalo. Logo após a colheita vendi o produto e comprei meu burro Xexeu, um animal de pelagem preta que na época era minha maior alegria pois sabia que ali estava um fruto do meu trabalho.
As conquistas do sertanejo, mesmo não sendo de grande monta, são de grande valor sentimental, aprendemos a dar valor às pequenas coisas e internalizamos o conceito de que, dessa forma, abrimos caminhos para as grandes vitórias e que se não conseguirmos valorizar o pouco nunca seremos merecedores do muito.
Meu sertão de alma pura que às vezes me fez chorar em outras me fez sorrir,
que me ensinou grandes lições para o caminho seguir,
enfrentar sol, chuva, seca e montanhas, só não me ensinou desistir.