Na minha infância era tratado como jovem desencorajado para a labuta diária do campo, alguns cheio de desinformação me chamavam de preguiçoso, enquanto outros diziam que eu não era para o trabalho duro (palavras da minha mãe) e que deveria estudar pois tinha uma grande capacidade de ler, entender e decorar.
A literatura de cordel representou a minha inserção no processo de leitura, meu pai um grande leitor, mesmo sendo autodidata, foi o meu grande incentivador, sempre que ia até a cidade aos sábados, se tivesse meios financeiros, comprava cordéis o que para mim se transformava em festa na chegada.
Lembro-me de alguns títulos bem sugestivos, tais como, Lampião Brosogo e o diabo; Chegada de Lampião no inferno; Cego Aderaldo e José Pretinho; José Tataíra; As proezas de Sabrina; Nordestino sim, nordestinado não; Vaca Estrela e Boi Fubá e muitos outros do nosso saudoso Patativa do Assaré. Uma viagem no passado que me remete ao presente.
O tempo passou e as coisas mudaram, o garoto que só lia cordéis se tornou um leitor de grandes autores, pesquisou várias enciclopédias, estudou em várias escolas, sendo algumas das mais renomadas do pais. Com o tempo, saiu da condição de leitor e passou a ser escritor, com três livros publicados e mais cinco em produção.
O garoto do sertão mudou sua história, mas não perdeu sua identidade nem suas origens; sempre que possível mantém contato com aqueles que fizeram parte da sua infância, faz questão de falar da importância de cada um e já viajou milhares de quilômetros para encontrar pessoas com quem conviveu na sua infância.
O filho do senhor Antônio de Goes e de dona Maria, nascido no agreste sertanejo do Ceará já viajou mais de 20 países, adora uma aventura como escalar montanhas, chilenas e peruanas, fazer caminhadas de longa distância, como o Caminho de Santiago de Compostela entre França e Espanha com 860 quilômetros. Superar desafios passou a ser seu maior desejo.
Passei por problemas de saúde, mas nunca tive medo da morte, fui para o centro cirúrgico e quando fui perguntado sobre alguma alergia respondi, “bisturi”, deitado na cama de um hospital quando o médico chegou e perguntou se estava tudo bem, respondi que estaria tudo bem se estivesse na minha cama, mas estava no melhor que podia.
O humor sempre foi uma das minhas características, mas o humor inteligente, com resposta compatível com as perguntas, em outros momentos o silêncio me acompanhou, pois quando não tenho nada para falar que possa acrescentar algo no outro prefiro ficar quieto. Aprendi que o silêncio traz grandes ensinamentos.
Resolvi falar um pouco sobre Valdizar depois de passar por uma experiência que ainda não sei a sua origem, nem tão pouco seu significado, mas uma coisa tenho certeza, foi a pior experiência que tive em toda minha existência. Aprendi que a vida é um dia de cada vez e que não saber lidar com isso pode ser desastroso, os excessos podem causar revolta e de uma hora para outra você pode ficar sozinho e a vida te deixar.
Já cometi muitos erros e cada um deles me trouxe milhares de ensinamentos; nasci numa família que adora uma briga ou uma confusão, os meus tios quando não tinham com quem brigar brigavam entre eles mesmos, carrego essa genética e posso garantir que não é fácil quando me deparo com um comportamento ancestral e se não domar rápido ele pode me trazer prejuízos irreparáveis.
Depois de passar por tudo que passei resolvi escrever o roteiro de um documentário sobre a minha história de sertanejo, minhas mazelas ancestrais, os meus medos da infância, os caboclos corajosos como Prisco Braga, Chico Rico, Braga Bastos, Fluvio Nocrato, Miguel Gonçalves, Antônio Alfaiate, Joaquim Neco, João de Góes, Luiz Carlota, Major Sinfrônio, os Marcelinos, Eumar Braga, Padre Geraldo, dona Mocinha e muitos outros que ainda vou citar, pois ainda estão vivos e preciso de autorização. Quem sabe essa ideia torna-se uma peça de teatro.
Enquanto não temos previsão do fim dessa pandemia, e dessa vez estamos todos no mesmo barco, inicio mais essa aventura com a ajuda de Deus, e estou certo que muitas ideias surgirão. Registro aqui que não será apenas mais um livro. Dessa vez, quero ir além.
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Muito bacana sua história! Desejo muita luz meu querido. Abraço
Olá, meu amigo. Tenho muito ainda pra contar. Gratidão. Abraço!